17 de fevereiro de 2010

Palavras e atitudes

Conta-nos o brilhante escritor maranhense Humberto de Campos, que depois de desencarnado assumiu o pseudônimo de Irmão X, através da mediunidade de Chico Xavier, que:

“Flávio era um dedicado expositor espírita, o qual detinha bastante conhecimento doutrinário e habilidades de oratória.

Há muito, trabalhava em um pequeno centro espírita, esclarecendo e consolando aqueles que o escutavam nos trabalhos de difusão da doutrina espírita.

Ao final do trabalho, após a prece, era comum muitas pessoas fazerem perguntas, comentários, ao que Flávio respondia com muito agrado e paciência, pois era uma oportunidade a mais para ele poder esclarecer alguma dúvida ou complementar algum raciocínio.

Como o auditório onde eram realizadas as palestras era pequeno, Flávio conseguia observar as pessoas enquanto palestrava, percebendo suas reações, interesses e entendimento dos assuntos apresentados.

Assim sendo, ele notou um cidadão que freqüentava regularmente às palestras.

Ele chegava discretamente, sentava-se na mesma cadeira, no fundo do auditório, assistia o trabalho com muita atenção, sem fazer nenhuma pergunta, e ao término da palestra saia silenciosamente.

Assim foi por muitos e muitos anos.

Um determinado dia, Flávio ao terminar a palestra notou que aquele cidadão anônimo não havia comparecido. Assim se sucedendo durante várias semanas, sem ele nunca mais retornar ao centro.

Flávio ficou intrigado, e resolveu perguntar a outros frequentadores, se eles conheciam aquele homem, indicando os traços fisionômicos, visto que ele não sabia seu nome.

A pesquisa foi em vão.

Ele não obteve nenhuma informação que pudesse explicar o sumiço repentino do cidadão anônimo.

Durante algumas semanas ele permaneceu com aquela dúvida: teria Flávio feito algum comentário que o desagradou, e por isto ele deixou de vir ao centro?

Sabe lá?

Mas como ele nada podia fazer, acabou esquecendo o cidadão anônimo e seguiu no seu trabalho habitual no centro espírita.

Muitos anos se passaram e Flávio após grave doença, veio a desencarnar após breve tempo.

No plano espiritual, após a sua recuperação, em conversa com os Mentores Espirituais que o assistiam, em colônia espiritual localizada nas cercanias da Terra, ele comentou seu interesse em trabalhar, pois já se sentia em condições e desejava retribuir um pouco do muito que havia recebido naquele abençoado recanto.

Os Mentores concordaram com alegria e informaram que dali a alguns dias ele seria apresentado ao coordenador da colônia espiritual, responsável pelos trabalhos de esclarecimento e consolo a espíritos inconformados com o seu desencarne , podendo assim, após a avaliação do coordenador colaborar como atendente nestas atividades.

Flávio agradeceu exultante.

Mal podia esperar a chegada do dia marcado, para novamente através da palavra esclarecer e consolar os mais necessitados.

Estava ansioso por conhecer o coordenador da tarefa, pois todos teceram elogios à sua dedicação, desvelo e amor cristão no trato com os irmãos em sofrimento.

No dia marcado Flávio foi apresentado ao Irmão Pedro, tendo uma grande surpresa.

Flávio reconheceu em Pedro, aquele cidadão anônimo, que assistira muitas de suas palestras doutrinárias e depois repentinamente desapareceu.

Pedro bastante emocionado lembrava-se bem de Flávio e disse:

Você é muito bem-vindo a este trabalho.

Tenho uma gratidão enorme a você, pois foram graças às suas palestras, que eu tive oportunidade de conhecer a doutrina espírita, a qual me modificou interiormente, possibilitando vencer imperfeições e superar inúmeras dificuldades vivenciadas na última encarnação.

Após uma dolorosa moléstia , desencarnei , despertando renovado neste lado da vida.

Pela Misericórdia de Deus, hoje posso ser útil neste abençoado recanto de trabalho, amor e assistência, dando continuidade ao meu progresso como espírito imortal.

“Flávio muito emocionado, ao escutar aquele sincero e humilde depoimento, não encontrou muitas palavras, a não ser agradecer singelamente e colocar-se à disposição para o trabalho.”

Esta singela estória nos oportuniza refletir sobre a importância do uso equilibrado da palavra, semeando esperança, consolo e esclarecimento.

Os Espíritos Superiores ensinam-nos que a palavra é energia, criando em nós e a nossa volta um campo vibratório o qual irá nos ligar a outras mentes sintonizadas nesta mesma faixa mental, gerando um intercâmbio psíquico/ espiritual , capaz de nos influenciar positiva ou negativamente na nossa vida de relação.

O Mestre Jesus nos diz:

“vós falais aquilo que tem cheio o vosso coração “, ou seja, pensamos, falamos e agimos de acordo com nossos sentimentos.

Assim é fundamental a educação de nossos sentimentos, disciplinando nossa razão, desenvolvendo a fé raciocinada e agindo de acordo com a moral e a ética do Cristo Jesus:

“Amar a Deus sob todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Amar a Deus é estudar e compreender a sua Lei, vivendo em harmonia com o Universo;

Amar ao Próximo é respeitar o semelhante, buscando uma interação harmoniosa, equilibrada e fraterna com todos os seres da Criação.

Quando falamos e agimos, exercendo nosso livre-arbítrio, somos responsáveis pelas consequências geradas por estas palavras e atos, através do mecanismo da Lei de Causa e Efeito.

Lembremos também, conforme conta a estória, que o exemplo vale mais do que 1.000 palavras.

Muitas vezes falamos muito e bem, porém praticamos quase nada do que pensamos ensinar.

Outras vezes, muitos companheiros agem em silêncio, vivenciando na prática os ensinamentos espíritas- cristãos que aprenderam.

Assim é a caminhada evolutiva a que todos nós estamos submetidos pelo Amor, Sabedoria, Misericórdia e Justiça Divina.

Para finalizar deixamos como reflexão o ponderado alerta do mentor Emmanuel:

“Há um trajeto enorme entre a sede do pensamento e os lábios, intimamente somos livres para construir através das palavras e dos nossos atos, mas depois que exteriorizamos estas ações, somos dependentes delas.”

Rafael Dourado
Vice-presidente - IEE

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